segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Procura da poesia

[...]
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.


Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

[...]

Drummond Memória Viva... A Procura da Poesia.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Escrevo diante da janela aberta


Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
 
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons.., acerta... desacerta..
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
 
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
 
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me, estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mário Quintana
 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Eu quero ser...


Eu quero ser a pessoa que você encontra quando quer fugir. Eu quero ser teu amor e quero ser teu amigo. Eu quero estar lá, mesmo que o mundo desabe. Eu quero ser a razão que tira os teus pés do chão. Eu quero te ajudar a transformar os teus sonhos em realidade...
 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A palavra que faltava

Havia uma mulher que amava as palavras. Desde a meninice, exerciam sobre ela um grande fascínio.

Talvez por isso ela tenha aprendido a ler muito cedo.  Desejava decifrar aqueles sinais que preenchiam as páginas do jornal.

Gostava de apreciar a sonoridade das palavras. Umas suaves, outras mais agressivas. E de aprender o significado de cada uma delas.

Encantava-se em saber que as palavras têm o poder de representar o pensamento humano e estabelecer a comunicação entre as pessoas.

Descobriu que existem palavras doces e perfumadas, como flor, carinho, amizade, maçã. Outras, tristes e angustiantes como lágrima, distância, saudade. Algumas dolorosas como crime, fome, abandono, guerra.

Algumas alegres e descontraídas, como primavera, natureza, criança.

Verificou que existem palavras que soam como uma sentença de morte, como metástase.

Um dia, no entanto, ela ouviu dos lábios do médico, que acabara de examinar com muito cuidado os resultados de seus exames, esta palavra e a achou muito feia.

Num momento, a paisagem se modificou, pareceu-lhe não haver mais luz, embora fosse dia. O sangue lhe sumiu das faces, dando lugar a um suor gélido.

O coração tentou fugir a galope. Fruto da ignorância, o medo, sempre oportunista, se instalou e a insegurança a dominou. O especialista foi lhe afirmando que havia muitas chances de melhora, graças às mais recentes conquistas da farmacologia.

Mas, ela nem conseguia prestar atenção. A voz do médico parecia distante. O cérebro desenhava paisagens sombrias, comprometendo-lhe o equilíbrio.

De volta ao lar, um tanto mais calma, talvez inspirada por benfeitores invisíveis, ela se lembrou de orar. Preparou sua alma para entrar em contato com Jesus e lhe rogar as forças necessárias.

Enquanto orava, pareceu ver o azul do firmamento, num cair de tarde, começando a salpicar de estrelas. Dele se destacou uma luz radiante, abrangendo todo o espaço ao seu redor.

Alguém, de olhar sereno e um sorriso cativante, lhe estendeu os braços. Caminhou em sua direção e um delicado perfume a envolveu.

Ela se sentiu aconchegar de encontro ao peito daquela criatura tão serena, como se fosse uma criança amedrontada.

Uma nova energia a invadiu e, então, como um canto divino ela ouviu dentro d’alma a voz melodiosa:

Filha, por que choras? Entre todas as palavras que admiras, esqueceste a mais importante, a mais poderosa.

Ela se atreveu a perguntar:

E que palavra eu esqueci, Senhor?

Ele se afastou um pouco, tomou o rosto dela entre suas mãos e olhando-a, com doce ternura, respondeu:

A palavra é fé!

*   *   *

Fé é a mola propulsora que permite superar óbices e vencer obstáculos.

Fé é força motriz da alma que, assim alimentada, vence os percalços e avança vitoriosa.

Por esta razão é que o Mestre de Nazaré ensinou, um dia: Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: move-te daqui para lá e ela se moverá.

E a montanha que todos precisamos mover para avançar na estrada da vida, chama-se dificuldade.

Pensemos nisso.
 

Redação do Momento Espírita, com base no
 texto
Xô, palavra feia!, de Rute Villas Boas.
Em 28.8.2014.