quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Nossos jardins

Tome cuidado ao entrar no coração de uma pessoa. Pise devagar e gentilmente. Observe o que ela plantou e quais são suas plantas mais preciosas...

Da mesma forma, quando alguém adentrar seu coração deve fazê-lo com cuidado e respeito. 


Nossos jardins são belos e diferentes. Neles, algumas plantas secam e morrem porém outras sempre nascem...

Andréa

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O gambá, a gaivota e o pinguim - Parte III

Parte III - O Pinguim


Gambás, gaivotas... Eu já estava com medo de bichos que iniciam com a letra G...

Foi então que uma colega me ofereceu ajuda. Perguntou se eu não queria fazer o trabalho com ela.

- Mas você já tem o bicho? - perguntei.

- Sim eu tenho um pinguim.

- Um pinguim? Mas como?

Então ela me explicou como havia conseguido o bichinho. Eis a história.

Uma outra colega estava fazendo novamente a disciplina de fisiologia animal, pois havia sido reprovada no semestre anterior. Esta colega estava na praia, nas férias de verão, e teve a sorte de encontrar um pinguim morto à beira mar. Isso aconteçe porque as vezes os pinguins perdem a rota e nadam na direção errada, vindo parar aqui nas nossas praias do sul.

Quando a colega viu o pinguim lembrou do trabalho que teria de fazer. Não teve dúvidas: recolheu o bichinho, levou para casa e congelou no freezer...

E lá estava ela no primeiro dia de aula,tranquila em relação ao bicho. Foi então que o professor deu a seguinte notícia:

- E para aqueles que já fizeram o trabalho prático no semestre passado, vou exigir somente um teórico.

Putz, pensou a moça. E agora o que eu faço com o pinguim? Foi nesse momento que ela doou esse verdadeiro tesouro para a minha colega.

Elas moravam longe uma da outra e minha colega pediu para o namorado ir com ela. E lá foram os dois de moto buscar o pinguim. Ele coube direitinho na mochila e minha colega o levou para casa. Ela me disse que parecia ter um cubo de gelo imenso nas costas. Passou um frio danado até chegar em casa...

Fora isso, o translado do pinguim foi tranquilo. Agora vem uma parte difícil: a foto. Como ela estava sem filme na máquina e tinha medo que o pinguim começasse a descongelar, resolveu levar o bichinho a um fotógrafo que morava perto da casa dela. Eu particularmente achei esse um ato de extrema coragem... Chegando lá com a mochila (gelada) nas costas ela falou:

- Oi, eu preciso de uma foto.

- Pois não. A foto é de corpo inteiro?

- É de corpo inteiro mas não é minha.

- Ah, você quer combinar a foto de outra pessoa?

- Ah, não exatamente... Eu preciso tirar a foto de um pinguim.

- Um pinguim? Mas onde ele está?

- Aqui na minha mochila...

- Na mochila? Mas...

- É que ele está morto...

Antes que o fotógrafo corresse com ela, minha colega explicou o motivo da foto e a história do pinguim.

Sensibilizado o fotógrafo tirou a foto, inédita para ele...

Foto pronta, agora era mãos ao trabalho.

A parte mais difícil foi extrair os ossos, pois o pinguim, assim como a gaivota, cheira mal demais...

Mas pelo menos ele não estava com nenhum osso quebrado.

Lembro que nos encontramos por várias tardes de sábado e fomos, aos poucos, limpando os ossos e fervendo os mesmos em uma mistura de água com água oxigenada para branqueá-los.

Aos poucos nosso trabalho foi tomando forma. Conseguimos separar todos os ossos e os colocamos um uma caixa com fundo de isopor, forrado com papel veludo preto. No isopor havíamos feito um compartimento para cada conjunto de ossos: pernas, pés, assas, cabeça,...

Pesquisamos os nomes dos ossos. Por fim um colega de trabalho desenhou o esqueleto para nós. O trabalhou ficou muito legal.

Nas aulas, cada grupo falava das dificuldades que haviam tido. Um dos grupos, que estava fazendo um gambá, não tinha foto. Então eu doei minhas fotos de gambá para eles. Várias posses, podiam até escolher. Ah, como eles ficaram felizes...

Dia da entrega, comoção geral. Os trabalhos: gambá, pinguim, peixe, galinha... Galinha?


- Galinha não pode, pois não é um animal silvestre - disse o professor.

Então o grupo, desesperado, insistiu:

- Mas professor, não conseguimos outro bicho... O senhor não sabe como é difícil...

Ah, eu sabia. Fiquei com pena deles...

O professor acabou aceitando o trabalho, porém avisou que por não ser um bicho silvestre, o critério de nota seria diferente. Eles não ganhariam a nota máxima, por melhor que estivesse o trabalho.

Eles ficaram felizes mesmo assim. O trabalho estava entregue, podiam dormir tranquilos...

Quanto a nós, tiramos a nota máxima, passamos na disciplina e eu não esqueçi do pinguim até hoje...

Os anos passaram... Não me formei em Ciências Biológicas. Curioso não? Fiz Tecnologia em Processamento de Dados e trabalho com computadores. Coisas da vida...

Porém tenho a foto do pinguim guardada até hoje e toda a história na lembrança...

Contei para algumas pessoas e, com o tempo, foi surgindo a vontade de transportá-la da minha lembrança para o papel... Afinal, não se passa por uma coisa dessas todos os dias...

E assim surgiu "O Gambá, a Gaivota e o Pinguim". 


Obrigada aos que leram!

Andréa

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Da oração

"Seja qual for a nossa religião, devemos orar juntos. As crianças precisam aprender a rezar, e elas precisam que seus pais orem com elas."

Madre Teresa de Calcutá

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O gambá, a gaivota e o pinguim - Parte II

Parte II - A Gaivota

Depois da minha decepção com os gambás fiquei em "stand by". Não tinha ideia de qual bicho fazer. Onde, raios, eu ia arranjar um animal silvestre morto? Será que teria de me embrenhar nos matos?

A solução chegou de forma inesperada: nas mãos do meu irmão. Ele foi a um almoço na praia e lá lembrou de mim. Saiu a caminhar e achou algumas gaivotas mortas. Meu trouxe duas ou três delas, não lembro mais. Quando vi os bichos meus olhos brilharam de alegria! Ah, finalmente eu retomaria o trabalho...

Então, em uma tarde de sábado, lá fui eu cozinhar uma das gaivotas. Como elas são bem menores que um gambá, peguei uma panela velha e cozinhei o bichinho no fogão (desta vez a mãe deixou). Depois de bem cozida, fui para o pátio da nossa casa e iniciei a tarefa.

Eu só não esperava era uma coisa: o bichinho cheirava a peixe... E cheirava demais! Gente, eu não conseguia trabalhar em função do cheiro do bicho.

Tentei e tentei mas não dava. Então a minha avó chegou perto de mim e disse:

- Ai minha filha, que fedor!

E eu respondi:

- É vó, eu não sei mais o que faço. Tá difícil...

- Eu tenho uma máscara, disse a vó. Vou trazer prá ti.

Ela tinha uma máscara destas usadas pelos profissionais da saúde. Coloquei a máscara e me aproximei do meu local de trabalho. Ah, o cheiro ficava suportável com ela.

E lá vamos nós (lembram da bruxa do pica-pau?). Vamos terminar este trabalho! Com uma pequena faquinha afiada fui aos poucos extraindo o esqueleto da gaivota. Perto dos ossos grandes tudo bem. Meu problema iniciou mesmo quando cheguei aos ossinhos pequenos das costelas, que eram cheios de cartilagem.

Os ossos eram tão fininhos e a cartilagem tão grudada, que eu não conseguia apurar onde terminava um e começava a outra. As vezes a faquinha ia rápido demais e zás: lá se ia o osso junto com a cartilagem. Talvez não acreditem, mas fiquei a tarde toda nesta função. O esqueleto estava ficando um pouco estranho, tenho que admitir: as vezes faltava um pedaçinho de osso, doutras vezes tinha cartilagem demais...

E o entardecer veio. Minha mãe perdeu a paciência comigo e falou:

- Ah, mas tu não sabes nada de ave. Vem cá que eu termino esta gaivota prá ti.

Ela pegou o bicho das minhas mãos e levou para dentro. Eu segui ela, cansada e intrigada ao mesmo tempo. Ela acendeu uma boca do fogão e começou a sapecar a gaivota. Para quem não sabe, este era ou é um processo usado pelas pessoas que criam galinhas para consumo próprio. Após matar uma galinha elas primeiro retiravam as penas grossas. Feito isso era a vez das penas bem fininhas, ou penugens. Estas eram queimadas elevando-se o corpo do bichinho acima do fogo de modo que a penugem queimava, mas a pele não. E assim ficava pronta a galinha para cozinhar.

Bom, a mãe resolveu sapecar a minha gaivota. Eu fiquei observando ela passar a gaivota para lá e para cá, a uma distância de alguns centímetros do fogo. Só que gaivota não é galinha e cartilagem não é penugem. De repente, quando menos esperávamos, o fogo pegou nas cartilagens e a mãe ficou com uma tocha na mão. Ela sacudiu e sacudiu o esqueleto do bichinho, mas isso só fazia o fogo se espalhar mais. Quando ela finalmente conseguiu apagar o fogo é que pude ver a proporção do estrago... Do esqueleto não sobrou quase nada: só a cabeça, parte da coluna. As costelas queimaram todas... A mãe me lançou um olhar apavorado do tipo: agora ela me mata!

Eu olhei para a mãe, olhei para a gaivota e olhei para a mãe de novo. Gente eu estava tão cansada que não consegui ficar brava. Eu só disse:

- Ah, deixa prá lá!

E a mãe se desfez da gaivota para mim.

E agora? Fazer a outra gaivota? Mas nem pensar!

E lá vinha a pergunta que não queria calar: cadê o bicho...

Andréa

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Tu tens um medo

Tu tens um medo: acabar.
Não vês que acabas todo dia?
Que morres no amor; na tristeza;
Na dúvida; no desejo.
Que te renovas todo dia
No amor; na tristeza;
Na dúvida; no desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Cecília Meireles


O gambá, a gaivota e o pinguim - Parte I

Parte I - O Gambá

Quando eu fazia meu segundo grau (era como se chamava o ensino médio na época) eu me apaixonei por Biologia! Então, quando prestei vestibular, não tive dúvidas: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS.

Pois é, cadeira vai, cadeira vem, e lá estava eu na primeira aula de Fisiologia Animal. O professor nos explicando como seria a nossa avaliação ao final do semestre, os trabalhos e provas que teríamos de fazer.

O trabalho final consistia no seguinte desafio:

. Encontrar um animal silvestre, morto (não podia matar, já tinha que estar morto);
. Tirar uma foto do animal no local;
. Extrair do animal o esqueleto;
. Nomear todos os ossos e dispô-los em ordem;
. Fazer um desenho do esqueleto do animal;
. Relatar o nome científico e demais características do mesmo.

Não precisava montar o esqueleto... ufa...

Bom, nós tinhamos um semestre inteirinho para fazer o trabalho. Mas essa história de achar um animal morto, não devia ser algo muito fácil.

Pedi ajuda ao meu pai, pois eu não tinha carro na época. E então, em uma linda manhã de sábado, saímos eu e ele, de fusca... aiaiai...

Subimos a serra e, no caminho, encontramos vários gambás mortos por atropelamento. Isso mesmo, gambás. Meu pai havia trazido uma pá de obra e eu, várias sacolas plásticas. Quando achávamos um gambá o pai parava o carro. Nós descíamos e olhávamos o estado do bicho. A maioria não adiantava nem levar prá casa....

Por fim achamos três gambás em estado razoável. Eu tirava as fotos e depois meu pai me ajudava, com a pá, a colocar os bichinhos nas sacolas, sob os olhares estranhos dos motoristas que por ali passavam.

Bom, pensei eu, agora é só fazer o trabalho. O mais difícil, eu consegui.

Ao chegar em casa com as sacolas e meus preciosíssimos gambás, ouvi a voz da minha mãe a dizer:

- Não pensa que tu vais pegar as minhas panelas. Não precisa nem entrar em casa...

Bah, que recepção. Na verdade eu nem havia pensado em como cozinhar os gambás. Mas era óbvio que não usaria a panelas da minha mãe. E ali estava eu, com três gambás na mão e sem saber como cozinhar os bichos... Era o quadro da dor...

Nesta época um tio meu morava com minha avó materna, na casa ao lado da minha. Não havia nem muro entre elas. Minha avó saiu na porta e me viu. Ficou com pena de mim e disse:

- Olha minha filha, pode pegar o latão de lixo da vó para cozinhar os gambás.

- Mas vó, como vou colocar esta baita lata encima do fogão?

Minha mãe escutou e lá de dentro da casa gritou:

- No meu fogão NÃO!

Ai que tristeza. Meu próprio sangue contra mim...

Foi aí que o meu tio entrou em cena:

- Não te preocupa filhinha, o tio faz um fogo prá ti.

E ele fez mesmo, uma fogueira bem grande. Levantou ao redor dela uns tijolos e sobre eles colocou uma grelha velha. Encheu o latão de água e colocou o primeiro gambá.

O filho do vizinho que morava na casa aos fundos da nossa se debruçou no muro com uma cara de curioso e perguntou:

- O que vocês estão fazendo?

- Fazendo um trabalho para a faculdade.

- Que trabalho?

- Ah, tenho que montar o esqueleto de um bicho. Estou tentando o de um gambá.

O menino ficou muito impressionado. Ficou no muro o tempo todo, olhando a nossa empreitada.

E lá se foi o dia todo... Já estava escurecendo quando meu tio acabou de cozinhar o último gambá.

Peguei os bichinhos (que por sinal tem cheiro de galinha quando cozidos) e os guardei com cuidado. Eram o meu tesouro!

Descansei um pouco e fui tentar extrair o primeiro esqueleto. Pelo menos o bichinho cheirava bem. Começei toda empolgada, os ossos todos inteirinhos. Até que, em determinado ponto, havia um deles esfacelado pela batida do carro. Ah, que decepção. Olhei, olhei e olhei: não tinha jeito, não havia como aproveitar aquele osso.

Fui ao segundo gambá então. Já comecei meio receosa, pois este estava mais machucado que o primeiro. Fui, fui, fui e lá pelas tantas outro osso esfacelado...

Peguei então meu terceiro e último tesouro. Não deu outra: osso esfacelado também. Aí tive uma ideia brilhante! Vamos fazer de três gambás, um. Perfeito! A, eu me senti como um gênio. Só depois de muito tentar juntar os três gambás em um único esqueleto é que descobri que a ideia não havia sido assim, tão genial... Eu não tinha noção de como montar o esqueleto. Eu não conseguia identificar os ossos esfacelados.

Cabisbaixa e triste guardei os bichinhos. No outro dia fiz um buraco no quintal da casa e enterrei os três.

Meu problema havia começado novamente do zero: cadê o bicho?


Andréa