segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Pai...



Por que você me disse para fazer sempre o certo,
Quando você nem sempre fazia...
E por que você me exigiu tanta perfeição,
Se você foi completamente imperfeito...
Por que você vestiu máscaras na frente dos homens,
Se na minha frente, você mostrou uma faceta tão diferente do seu eu...
E por que você exigiu que eu seguisse os seus passos,
Quando não era possível, para mim, viver assim...
Ao mesmo tempo em que entendo, por outro lado, talvez nunca aceite,
Essa importância que você deu a tantos outros,
E a pouca importância que você deu àqueles que te amavam...
Não guardo mágoa, nem duvido do teu amor,
Só esse vazio, esse vazio de saber que tudo poderia ter sido tão diferente.
Tão diferente,
Pai...

Andréa W. Petry

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O menino azul












O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
 Cecília Meireles