Há anos atrás, quando eu ainda morava com meus pais e meus avôs ainda eram vivos, ocorreu a história que agora vos conto. Morávamos ao lado da casa de meus avós maternos e minha dinda por parte de mãe morava em frente a nossa casa.
Eis que minha dinda, em um ataque de nostalgia, resolveu criar perus. Ela conseguiu, não lembro como, um peru e três peruas, e os soltou no seu grande pátio.
Logo no início, o peru demonstrou um comportamento possessivo, e o pátio passou a ser só dele. Quem quisesse entrar ou sair tinha de ser escoltado pela minha prima, que sempre tinha uma bela e eficiente vassoura nas mãos...
Porém meu avô insistia em entrar no pátio sem escolta, dizendo que o peru era amigo dele.
E assim foi. O tempo passando. Meu avô insistindo com a tal "amizade" e o peru se demonstrando cada vez menos contente.
O descontentamento do peru foi tão grande, que certo dia, indignado da vida, pulou no meu avô e desferiu contra ele uma bicada certeira, bem no meio da careca...
Meu avô fiou furioso e deu a amizade por terminada, definitivamente!
O tempo passou novamente e minha dinda descobriu que não queria mais os perus. A nostalgia havia acabado...
Além do mais, o peru, que era todo metido com “os de casa”, deixou ladrões entrarem no pátio e levarem duas, das três peruas... Olha só que valentão!
Restaram então o peru e uma perua.
Meu pai, que gosta de animais, ficou temeroso pelo destino deles. Então ele teve uma grande ideia: todo solícito, comprou os perus e os levou para a irmã dele, por sinal minha dinda paterna, que morava no interior. Curiosidade: meu avô paterno morava com ela...
Ele levou os perus, com as patas e asas devidamente contidas. Foram os dois confortavelmente instalados no banco de trás do Fusca.
Chegando lá, soltou a bicharada no pátio da minha outra dinda e no outro dia voltou para casa, contente da vida, com gosto de missão cumprida nos lábios.
Passado mais um tempo, fomos visitá-los no interior. Chegando lá, ao cumprimentarmos todos, notamos que meu avô estava com uma marca expressiva na sua careca. Foi então que soubemos: o peru atacara novamente! E constatamos, aterrorizados, que ele era um serial killer, que adorava bicar as carecas dos vovôs.
Minha dinda não quis mais o perigoso animal no seu pátio. Imagina se ele resolvesse atacar todos os vovôs carecas que por ali passassem?
Então ela avisou solenemente que os doaria. E foi assim que eles mudaram mais uma vez de lar e não tivemos mais notícias deles...
Andréa W. Petry