Hoje quero apresentar um dilema que afeta
muitas pessoas quando estão clinicamente deprimidas: a falta
de vontade para agir.
Não vai à festa porque não tem vontade. Não
cuida da aparência porque está sem vontade. Não passeia
porque se sente apático, desmotivado...
Estamos muito acostumados a pensar que apenas agimos se estamos com vontade
de fazer algo. Mas por acaso há quem tenha vontade de tomar injeção
intramuscular ou de fazer cirurgia cardíaca? A gente só
aceita fazer por conta de um valor maior, que é salvar a vida,
recuperar a saúde. E ninguém se enfurna num meio de transporte
superlotado a cada manhã porque morre de vontade de ir trabalhar
todo dia, em particular quando chove, ou faz um frio ou calor inclemente.
A pessoa o faz motivada pela necessidade de prover o sustento a si ou
a terceiros. Ponto.
Na verdade, um poderoso e paradoxal instrumento de melhora para quem está
deprimido é se engajar em atividades que no passado faziam sentido
para a pessoa e lhe traziam alguma forma de satisfação.
A diferença, na atualidade em que impera o humor depressivo, é
que a pessoa provavelmente dirá para si própria toda sorte
de argumentos que favoreçam a inércia e a manutenção
do status quo da depressão.
A ativação comportamental tem um efeito interessante de
estimular a química cerebral de modo oposto ao padrão depressivo.
Muitas vezes, ao agirmos ativamente, acabamos também por produzir
consequências gratificantes, que mudam o rumo das coisas para uma
direção favorável a cada um de nós. De início
agiremos apenas movidos por um senso de obrigação, pelo
compromisso que mantemos com alguém que nos é particularmente
importante, ou somos inspirados pela bem-sucedida luta de outra pessoa
contra a própria depressão.
O importante é manter clareza de nossos valores maiores: defendemos
lutar pela qualidade de vida, queremos cuidar melhor de quem amamos, o
importante é que cada um reflita sobre pontos-chave em seus códigos
pessoais de valores, se agarre a eles de modo a agir de modo compatível.
Bastante provável que, a título de exemplo, dar início
a uma caminhada pareça um sacrifício hercúleo. Então
que a pessoa negocie consigo mesma caminhar devagar por ao menos dez minutos
e depois reavalie se topa andar mais cinco. De grão em grão
muita galinha enche o papo. E acaba fazendo uma caminhada leve de vinte
minutos ou mais, ao final da qual se sentirá menos desgastada do
que por ocasião dos primeiros passos. Essa pequena, mas real melhora,
precisa ser lembrada no dia seguinte, na hora de caminhar de novo.
Inércia gera inércia, ação gera ação.
Temos aí um efeito dominó, a ser explorado do jeito certo.
A melhor estratégia é pensar em pequenos passos, fazer tudo
com paciência, de modo gradual e perseverante. Não espere
a vontade aparecer, e como dizia a velha canção de Geraldo
Vandré: quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Vire a mesa a seu favor. Não deixe a falta de vontade corroer sua
vida, dê um chega nesses argumentos pró-inércia,
sabotadores sutis, porém capazes de fazer um grande estrago na
vida de gente muito bacana.
Quem quiser saber mais sobre o tema coloque a expressão “ativação
comportamental, depressão” num mecanismo de busca. Quem souber
inglês, que o faça também nesse idioma. Aprender mais
também é ser ativo, e nos protege da depressão. Bons
estudos, e um bem-sucedido combate a você.
Regina Wielenska
Mas eu não tenho vontade... Como agir para combater a depressão?